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08 abril, 2010

Safra: foco deve ser em armazéns [Portal Webtranspo]


Todos os anos, uma cena se repete na época da colheita de safra agrícola: caminhões carregados de grãos compõem gigantescas filas nos maiores portos do País. Isso, segundo especialistas, é reflexo da falta de armazéns para estocar o produto.
Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o ideal é que a capacidade total de estocagem seja 20% superior à safra. Entretanto, hoje, o Brasil consegue armazenar algo em torno de 133 milhões de toneladas de grãos, frente a uma produção que - neste ano - deve atingir um índice recorde de 144 milhões de toneladas, conforme estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Outro agravante, conforme os números da Conab, é a má distribuição geográfica dos silos existentes. De acordo com o levantamento da companhia, menos de 20% da capacidade de armazenagem do País está instalada dentro das propriedades rurais. Sendo assim, não apenas faltam silos, como os que existem não conseguem atender a demanda por, em sua maioria, estarem fora dos locais de produção.
Com isso, segundo Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Estudos Logísticos da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, toda a economia brasileira sofre. Entretanto, quem mais perde com o problema são os produtores rurais.
“Muitos agricultores brasileiros não possuem sistemas de armazenagem nas fazendas, isso faz com que eles tenham que vender o produto mais rápido e, inúmeras vezes, a preços não competitivos. Ou seja, eles são obrigados a transferir o grão imediatamente para quem tem a capacidade de armazenagem; e essa movimentação, às vezes, acontece com a própria venda. Se tivéssemos um sistema eficaz, os produtores poderiam especular mais o preço dos grãos”, argumenta.
Para tentar reverter essa situação, neste mês, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou que a segunda etapa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deverá liberar recursos da ordem de R$ 3 bilhões apenas para a área de armazenamento de grãos.
De acordo com o ministro, em países desenvolvidos, mais de 50% dos armazéns são particulares, enquanto no Brasil esse volume atinge apenas 15%. “Vamos aumentar os financiamentos para armazéns em propriedades rurais e cooperativas”, garantiu Stephanes.
Entretanto, embora o volume de recursos seja grande, Resende aponta que não atinge nem mesmo a metade do que seria necessário para sanar os problemas quanto à estocagem de grãos no País.
“Os investimentos do PAC 2 são bem vindos, estavam passando da hora, por que, apesar de não serem suficientes – acredito que, no mínimo, o dobro disso seja necessário – é um dinheiro que, pela primeira vez na história recente do País, aborda a questão da armazenagem”, aponta.
Contudo, não é apenas quando o assunto é a armazenagem que o custo pesa no bolso do agricultor. Frente a alta demanda de transporte, no período da safra, e os problemas de infraestrutura, é comum que os valores cobrados pelo frete sofram um salto expressivo.
“As vias de acesso às áreas de produção estão em péssimo estado, principalmente no Centro-Oeste e no Norte no País. Uma viagem que poderia ser feita em apenas um dia está demorando dois, ou até mesmo três, para ser concluída devido as más condições das estradas. Assim, o caminhoneiro que poderia ter feito três fretes no mesmo período de apenas um, se vê obrigado a aumentar o valor cobrado pelo serviço”, justifica Resende.
O especialista explica que esta questão afeta, e muito, a competitividade dos produtos brasileiros diante outros países. “O custo do frete acaba indo para o preço final do produto. E isso aumenta o custo logístico e reduz o potencial dos produtos brasileiros”, afirma.
E prossegue: “é preciso que o Governo Federal, Estadual e Municipal se atentem mais para as questões das condições rodoviárias nas áreas de produção. Muita vezes, espera-se que a rodovia fique ruim para tomar uma decisão. Um programa nacional de recuperação de estradas nas áreas de produção seria bem vindo”.
Além disso, Resende acredita que o que falta ao País é um plano estratégico de criação de corredores logísticos para o escoamento de produtos, com a integração de rodovias, hidrovias, ferrovias e portos.
“Em minha análise, as regiões Centro-Oeste e Sul serão responsáveis por irradiar corredores em direção aos portos do Norte e do Sul e, talvez, para Santos (SP). O Brasil precisa pensar estes corredores logísticos para sua safra como uma questão estratégica. Caso contrário, todos anos vamos viver grandes problemas”, finaliza.

Fonte: Portal Webtranspo; disponível em http://www.webtranspo.com.br/home/logistica/17366-safra-foco-deve-ser-em-armazens ; acesso em 28/03/2010.

Foto: Portal Webtranspo.

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