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17 janeiro, 2009

Meteorologia a serviço da logística

Qual a relação entre meteorologia e logística? A princípio, podem parecer assuntos totalmente diversos. Porém, matéria da revista Veja, de 24/12/2008, trata do “casamento” entre meteorologia e negócios. Em resumo, o texto aborda a influência da temperatura (em especial o calor do verão) na produção e no consumo de bebidas, sorvetes, condicionadores de ar, entre outros. Interessante saber que, para alguns produtos, o conhecimento antecipado das condições climáticas pode representar o sucesso ou fracasso em termos de disponibilidade destes ao cliente, ou seja, na definição e execução do plano de distribuição. Boa leitura.

A LOIRA GELADA QUER CALOR – Por Renata Moraes
Quando uma onda de calor atingiu o litoral paulista em meados de 2006, a fabricante de sorvetes Portofino foi a única grande empresa do setor incapaz de suprir o aumento repentino na demanda. Suas principais concorrentes tinham a informação na manga, fornecida por serviços privados de meteorologia. Já haviam reforçado o estoque e a distribuição. Esse é apenas um exemplo de como a antecipação de tendências climáticas se tornou essencial para fabricantes e prestadores de serviços. A cada 1% de aumento na temperatura atmosférica, o consumo de cerveja cresce 0,28%. Esse pequeno porcentual, aparentemente irrelevante, é vital para o setor. Os brasileiros bebem mais de 10 bilhões de litros do produto anualmente. Em um dia quente e seco de verão, com um calorão de 40 graus, são vendidos 18 milhões de latinhas a mais, em média, que em períodos mais amenos, com os termômetros ao redor dos 25 graus.
O casamento entre os negócios e a meteorologia só foi possível com o aumento da precisão dessa atividade com mais de 2 000 anos de história, mas cujo salto tecnológico se acelerou nas últimas décadas. Em 1980, as previsões tinham 70% de acerto. Hoje, com supercomputadores que realizam até 60 trilhões de cálculos climáticos por segundo, elas atingem 95% quando feitas para o prazo de dois dias. Devido à relação direta entre clima e vendas, as fabricantes do setor disputam as melhores previsões. Com isso, tentam estimar, antes e melhor que seus concorrentes, em que regiões o consumo será maior. Se a temperatura passa de 20 para 30 graus, o consumo médio diário de água residencial de uma família paulistana sobe de 430 para 570 litros. "As informações climáticas tornam-se essenciais no verão. Antecipar corretamente o clima permite o planejamento da distribuição e evita que faltem produtos nas prateleiras nos dias de pico de consumo", afirma Marcel Sacco, diretor de marketing da Schincariol. Se uma fabricante toma conhecimento, com até quatro dias de antecedência, de que um fim de semana será mais quente e sem chuvas, consegue planejar-se para uma ação de marketing nas praias e nos bares, além de reforçar a entrega do produto. "Já tivemos pedidos inusitados, como o de um microempresário que trazia cocos do Nordeste para o Sul e o Sudeste e queria basear-se em previsões climáticas para calcular melhor a quantidade", conta André Madeira, meteorologista da Climatempo. "Nossos clientes vão da Petrobras, que utiliza as informações climáticas para planejar seu trabalho nos campos de prospecção da costa, a empresas têxteis, que precisam saber como será a estação para organizar a confecção."
A principal fonte de dados meteorológicos brasileira é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão oficial subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Mas os fabricantes que precisam de informações mais detalhadas, de acordo com suas necessidades específicas, procuram os serviços de consultorias privadas. Para estas, prever o tempo transformou-se em um negócio lucrativo. A Climatempo, a maior do setor na América Latina, já dispõe de um canal de TV exclusivo. Outras empresas apenas produzem análises de mercado com base nas previsões meteorológicas. Uma delas é a LCA Consultores, responsável pelo estudo que relaciona a venda de cervejas ao aumento da temperatura. Segundo o economista Marcos Nascimento, autor do estudo, as informações sobre o clima são hoje decisivas no plano de negócios de diversas empresas do país: "Com base nas previsões meteorológicas, as companhias conseguem adequar a fabricação e a distribuição de seus produtos e serviços, além de planejar estratégias de marketing". A LCA também já fez trabalhos do mesmo tipo para companhias dos setores de ar-condicionado, gás residencial e energia elétrica. A indústria de sorvetes é outra que vive em torno dos meses de calor mais intenso. Mais de dois terços dos 900 milhões de litros produzidos por ano no Brasil são consumidos no verão. "Estamos tentando mudar a cultura do brasileiro de que sorvete é para dias quentes", diz Eduardo Weisberg, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Sorvetes (Abis). Ainda que nas regiões Norte e Nordeste o verão dure praticamente doze meses por ano, o consumo de sorvetes se concentra no Sudeste e no Sul, onde a renda é mais elevada. A multinacional anglo-holandesa Unilever, dona da marca Kibon, lança mão das previsões sobre as tendências climáticas para programar sua distribuição. Mas, segundo Sebastian Reyes, vice-presidente do segmento de sorvetes da empresa, os modelos meteorológicos precisam ser vistos com cuidado. "Eles devem ser utilizados com cautela, porque são sujeitos a alterações repentinas", afirma Reyes.

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