O setor de agronegócio brasileiro vive um momento histórico. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que esta atividade foi a que mais cresceu no País no segundo trimestre deste ano.
De acordo com o instituto, no acumulado, os valores correntes da atividade atingiram R$ 54,2 bilhões. Com isso, o PIB (Produto Interno Bruto) do setor registrou uma expansão de 1,6% frente ao mesmo período do ano passado.
Para se ter uma ideia, apenas o setor de cana deaçúcar estima uma produção 7,8% superior neste ano em relação ao volume registrado em 2009, atingindo a marca de 651,51 milhões de toneladas.
Outro número astronômico é registrado na safra de grãos. De acordo com o levantamento divulgado nesta quinta-feira, 9, pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a atual colheita de grãos atingiu o nível recorde de 148,99 milhões de toneladas, um incremento de 10,3% sobre a safra anterior.
Entretanto, se por um lado o cenário não poderia ser melhor, por outro, os protagonistas deste importante momento para a economia do País vivem preocupados com o escoamento da produção.
De acordo com um levantamento da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), a falta de alternativas para escoar a produção brasileira provocou a explosão dos custos logísticos no agronegócio.
Segundo a análise recém divulgada, de 2003 a 2009, os gastos com transporte saltaram, em média, 147% enquanto a inflação subiu 48%. Nos Estados Unidos e na Argentina, importantes concorrentes do País, o avanço foi de 16% e 35%, respectivamente.
Este aumento no custo se deve a inúmeros fatores, como problemas de infraestrutura e também ao fato do agronegócio avançar fortemente para áreas mais afastadas do País. “As vias de acesso às áreas de produção estão em péssimo estado, principalmente no Centro-Oeste e no Norte no País. Uma viagem que poderia ser feita em apenas um dia está demorando dois, ou até mesmo três, para ser concluída devido as más condições das estradas”, destaca Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Estudos Logísticos da Fundação Dom Cabral.
O especialista explica que esta questão afeta, e muito, a competitividade dos produtos brasileiros diante de outros países. “O custo do frete acaba indo para o preço final do produto. E isso aumenta o custo logístico e reduz o potencial dos produtos brasileiros”, afirma.
Para se ter uma ideia do peso do frete para os produtores, de Sorriso, no Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, até o porto de Santos (SP) são 2.100 quilômetros de distância, até Paranaguá (PR) e Vitória (ES) são, respectivamente, 2.200 e 2.500 quilômetros.
Como nessa região a capacidade ferroviária e hidroviária é limitada, a maior parte da safra, aproximadamente 70% da produção, é movimentada por caminhões a um custo médio de R$ 230 a tonelada.
Já os produtores que estão mais próximos aos portos citados acima gastam de R$ 55 a R$ 70 por toneladas para levar seus produtos até os complexos. Segundo a Anec, no Brasil se paga, em média, R$ 135,6 por tonelada.
“Atualmente, a única opção para a região central escoar sua produção é por meio de rodovias. Há projetos para suprir importantes Estados produtores com ferrovias, mas isso ainda levará algum tempo”, pontua Rodrigo Vilaça, diretor executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).
Para Newton Gibson, presidente da ABTC (Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga), “a forte dependência ao setor rodoviário é um gargalo que tem prejudicado muito o desenvolvimento do Brasil, não apenas na região central, mas em todas as regiões”.
Segundo o executivo, para evitar que uma paralisação de caminhoneiros – como a que aconteceu no último mês em Mato Grosso - possa atingir negativamente o País, é necessário investimento em infraestrutura. “É preciso que se faça urgentemente a interligação eficaz dos modais rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo”.
Resende concorda e aponta que o que falta ao País é um plano estratégico de criação de corredores logísticos para o escoamento de produtos, com a integração de todos os sistemas de transporte.
“Em minha análise, as regiões Centro-Oeste e Sul serão responsáveis por irradiar corredores em direção aos portos do Norte e do Sul e, talvez, para Santos (SP). O Brasil precisa pensar estes corredores logísticos para sua safra como uma questão estratégica. Caso contrário, em todos os anos vamos viver grandes problemas”, finaliza.
Fonte: Portal Webrtranspo; disponível em http://www.webtranspo.com.br/logistica/19583-crescimento-agricola-expoe-fragilidades ; acesso em 12/09/2010.
Nota: Para complementar a análise acima, recomendo ouvir a entrevista concedida à Rádio CBN por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, presidente do conselho de agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ex-ministro da Agricultura disponível em http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-brasil/2010/08/30/TECNOLOGIA-PERMITIU-AUMENTAR-A-PRODUTIVIDADE-MAS-LOGISTICA-PREOCUPA-O-AGRONEGOCIO-NO-BR.htm
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