Com transporte predominantemente rodoviário até os portos do País, o mercado de frutas busca solucionar questões que oneram a produção brasileira – a terceira maior do mundo, com aproximadamente 43 milhões de toneladas por ano – e afastam os consumidores de outras nações dos produtos produzidos no País. Neste sentido, Maurício Ferraz, gerente da Central de Serviços do Ibraf (Instituto Brasileiro de Frutas), explica que a primeira medida a ser tomada é cuidar do processo de colheita, armazenamento e transporte.
“O melhor dia da fruta é o da colheita - principalmente quando se fala de produtos tropicais, que são muito sensíveis. O agricultor colhe no melhor estágio, daqui para frente, é preciso fazer todo o possível para preservá-los. É necessário tirar da propriedade e levar à mesa do consumidor com as melhores características possíveis”, pontua.
E prossegue: “para isso, temos que trabalhar com boas práticas agrícolas e depois tentar atuar de melhor forma possível com a cadeia de frio: colocar a fruta em refrigeração, na propriedade e fazer com que esse produto continue refrigerado até a casa do consumidor. Essa quebra de frio no meio do caminho - seja por transporte inadequado, porque o produtor não possui as condições apropriadas ou quando chega no supermercado sai da câmera fria e vao para as gôndolas - faz com que essa fruta se deprecie”.
Com isso, Ferraz aponta qual é o papel da cadeia logística neste ciclo. “É função do operador buscar as melhores tecnologias, pensar sempre em embalagens apropriadas e no manuseio mínimo. Este último quesito é primordial; pois quanto menos gente colocar a mão na fruta, melhor”.
Para elucidar a importância desta questão, o executivo destaca que, do processo de colheita à mesa do consumidor, aproximadamente 40% da produção é perdida. Isso gera um ônus a quem consome, pois o que sobra precisa dar retorno econômico ao produtor.
Na outra ponta da cadeia, está a questão do envio aos mercados internacionais. Segundo o diretor do Ibraf, se levarmos em conta as frutas frescas e processadas, como a polpa e o suco – área em Muitas vezes, frutas são transportadas sem refrigeraçãoque o País se especializou – o Brasil exporta 30% de tudo o que produz. “Este volume indicou negócios da ordem de US$ 3 milhões com a comercialização de produtos nacionais no ano passado”, reforça.
Entretanto, com volume inexpressivo – apenas 2% de todo o volume produzido, aproximadamente 780 mil toneladas -, mas com potencial de crescimento, as frutas frescas sofrem mais para ganhar espaço.
Movimentados principalmente por caminhões, os produtos – muitas vezes colhidos antes da hora para aguentar os impactos ocasionados pelo transporte – chegam aos países compradores com avarias que afugentam os consumidores.
“Quando um cliente chega ao supermercado, ele busca – primordialmente - frutas tradicionais, como peras e uvas. Sendo assim, um mamão papaia, por exemplo, que muitas vezes sai do País ainda verde, não atrai a atenção destas pessoas por não estar pronto para o consumo”, exemplifica Ferraz.
O executivo explica também que a adoção do modal marítimo para o envio das frutas, ao invés de aviões, para realizar este transporte precisa ser reavaliado – hoje 82% de tudo o que o Brasil exporta é por portos. “A movimentação das mercadorias pelo transporte aéreo é muito mais ágil, o que possibilita colher o produto no momento pronto”, explica.
Problemas no transporte afugentam consumidoresFerraz também descreve que outras duas soluções poderiam ser utilizadas para agilizar o processo de exportação das frutas brasileiras. A primeira, o uso de ferrovias para chegar até os complexos portuários; a segunda, o uso de cabotagem para agilizar a movimentação na costa brasileira.
“Se houvesse um outro modal, como a ferrovia, o custo no transporte seria mais baixo. Além disso, as frutas ficariam menos tempo em movimentação, teríamos menos caminhões congestionando as entradas de acesso aos portos, com um volume muito maior de carga transportada. O mundo todo está migrando para o modal ferroviário e o Brasil continua trabalhando com o modal rodoviário”, argumenta.
Em contrapartida, o executivo destaca que “a grande vantagem da movimentação por rodovia é o conhecimento e a facilidade de utilizar este modal. O Brasil se especializou em trabalhar com este modo de transporte”.
Quanto à cabotagem, Ferraz afirma que concentrar o envio deste tipo de mercadoria em um único porto poderia beneficiar toda a cadeia. “Hoje, os centros de produção carregam os caminhões que seguem para os principais portos. Lá, estes veículos enfrentam filas enormes até embarcar o produto; em seguida, estes navios cruzam toda a costa para seguir para seu destino. A ideia seria colocar um porto como principal escoador de frutas. Assim, produtores próximos a ele podem enviar a carga diretamente; as outras regiões, encaminham seus produtos por cabotagem”, detalha.
Fonte: Portal Webtranspo; disponível em http://www.webtranspo.com.br/home/comex/17464-exportacao-de-frutas-esbarra-na-logistica ; acesso em 06/04/2010.
Nota: Em post anterior trouxemos matéria do Portal Webtranspo sobre a falta de armazéns para estocagem da safra de grãos. Agora, o mesmo veículo aborda as dificuldades logísticas para atendimento do mercado interno e externo de frutas. Trata-se de uma realidade lamentável para um país que é um dos maiores produtores mundiais de alimentos (grãos, frutas, carnes, etc). Considerando o déficit entre a produção e a demanda mundial por alimento, cada kg desperdiçado tem valor inestimável.
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