Na família de Tomaz Gabriel, de 70 anos, a profissão de motorista de caminhão
passa de pai para filho há mais de um século. No comando de uma empresa, com 140
caminhões, Tomaz tem problemas em encontrar motorista para dirigir a frota. Ao
contrário da época de Gabriel e seu avô, hoje falta profissional no mercado.
Calcula-se que o déficit de caminhoneiro já atinja 13% da frota das empresas (ou
cerca de 100 mil motoristas), segundo a Associação Nacional do Transporte de
Carga e Logística (NTC&Logística).
A escassez tem dificultado a
vida das transportadoras e dos produtores, seja do setor industrial ou do
agronegócio. Na colheita de soja, a escala de embarque tem sido prejudicada pela
falta de profissionais, afirma Carlos Fávaro, presidente da Associação dos
Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). "Se uma empresa
precisa de dez caminhões para fazer o transporte de soja, recebe apenas dois por
dia. Isso provoca estocagem excessiva e redução da competitividade do
País."
Para complicar, o contingente de motoristas acaba sendo
comprometido com os congestionamentos gigantes na entrada dos portos, como em
Santos e Guarujá. Na semana passada, Tomaz Gabriel gastou 21 horas na Rodovia
Cônego Rangoni para descarregar no complexo santista. No tempo perdido na fila,
poderia ter atendido outra demanda. O exemplo vale também para a má qualidade
das rodovias, que às vezes dobra o tempo de viagem.
O presidente da
Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, diz que
tem sido difícil convencer um jovem de se tornar caminhoneiro. "Hoje ninguém
quer ser motorista por causa das condições das estradas e da remuneração." Ele
conta que há iniciativas no mercado de recrutamento de pessoas de 15 a 17 anos
para formar caminhoneiros. "Num primeiro momento, eles até têm interesse. Mas
quando chega a parte prática e mecânica do curso, mudam de ideia e veem que ser
mecânico é mais vantajoso", diz.
Fonseca tem uma empresa de transporte de cana de açúcar e precisa de motoristas especializados na condução de caminhões pesados, computadorizados e cheios de tecnologia.
Fonseca tem uma empresa de transporte de cana de açúcar e precisa de motoristas especializados na condução de caminhões pesados, computadorizados e cheios de tecnologia.
A alta tecnologia dos
novos caminhões também amedronta os profissionais, especialmente os motoristas
mais velhos, acostumados a veículos manuais. A maioria não sabe operar os novos
caminhões. E quando o fazem arriscam suas vidas e de terceiros. O professor da
Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, conta que boa parte dos acidentes provocados
por caminhoneiros nas estradas está ligada à incapacidade dos motoristas de
lidar com as inovações tecnológicas. "Os novos caminhões exigem uma postura
diferente no volante. Qualquer movimento brusco pode provocar sérios
acidentes."
Fonte: Portal Newtrade; disponível em http://www.newtrade.com.br/noticia/empresas-de-carga-sofrem-com-falta-de-mao-de-obra-qualificada; acesso em 26/03/2013.
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